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ALMAS CONSAGRADAS

União dos Leigos Consagrados
        OS CHAMADOS
       COMPREENDER       

Segundo o catecismo da Igreja Católica, «O homem é, por natureza e vocação, um ser religioso. Como vem de Deus e vai para Deus, não vive uma vida plenamente humana; pelo contrário, vive a sua relação com Deus, em liberdade».

       Escreveu Santo Agostinho: «Desde o seu nascimento o homem é convidado a dialogar com Deus: com efeito, o homem só existe porque, tendo sido criado por Deus, por amor, por Ele é conservado, também por amor».

       Trata-se de afirmações importantes que, outrora, na vida cristã, tinham um profundo significado real. Na nossa cultura, porém, perderam-no.

       Tal como para Francesco Forgione (Padre Pio) esta realidade, mesmo em localidades com comunidades bastante isoladas, ainda tem significado. O «diálogo» inevitável entre a criação e Deus pôde assim nascer e desenvolver-se de forma serena, tornando-se imediatamente um milagre de entendimento, com todas as consequências daí decorrentes, ou seja, as evoluções que semelhante «relação» e semelhante «entendimento» podem produzir.

       Sendo evidente que a maioria dos santos nasceram com uma vocação especial. As pessoas que os conheceram como neles se manifestaram fenómenos misteriosos desde muito cedo de idade, como no caso do Padre Pio, que se encontrava frequentemente com seres de cuja presença mais ninguém se apercebia e, de algum modo, «falava» certamente com alguém. Assim nos seu crescimento, era muito orientado por esses seres, do que pelos próprios pais e parentes, ou pelo pároco. Recebia  informações e conselhos a que os outros não tinham acesso. Por isso, a sua existência seguia um trilho privilegiado.

       Ou seja que se trata de seres particulares, predilectos de Deus, pessoas dotadas de carismas especiais, desde os seus primeiros anos de vida.

       Tal diversidade, porém, entra numa lógica compreensível. Para das um exemplo, podemos dar um exemplo, podemos recordar aquilo que o Catecismo da Igreja diz a propósito de Nossa Senhora: «Para ser Mãe do Salvador, Maria foi enriquecida por Deus com dons dignos de tão grande missão». Conceito amplamente desenvolvido ao longo do Concílio Vaticano II, e expresso no documento conciliar Lumen Gentium.

       Deus concede dons dignos da vocação para a qual uma pessoa é chamada. O Padre Pio era chamado a ser «outro Cristo». Tinha começado a responder a essa chamada de forma positiva desde o início da sua vida, e desde esse início fora cumulado por Deus com graças especiais.

 

      Brota espontaneamente uma interrogação: Será que Deus tem preferências? Haverá também na vida espiritual pessoas da categoria A, B ou C, ou seja, categorias mais favorecidas, mais queridas pelo céu?

     Isso não é verdade. A teologia ensina que todos os seres humanos são filhos de Deus. Ele tem certamente preferências, mas «como pai», por cada um de seus filhos. Deus trata cada um como se fosse único, o único, o Unigénito.

     Entramos assim no mistério da «chamada». Todos os homens são «chamados». Ao entrar na vida, trazem em si mesmo uma «chamada», ou seja uma vocação, a razão da sua existência, a razão suprema; aquela pelo qual Deus os amou.

     A fé cristã ensina que cada humano é único e irrepetível. Isto significa que na história  da criação nunca mais haverá outro ser semelhante ou igual a ele, não por impossibilidade da parte de Deus, mas pelo seu amor infinito.

    Cada ser humano é explicitamente querido por Deus para um fim preciso, com características únicas, que não são inculcadas a mais ninguém. Realizar esta unicidade quer dizer realizar o desígnio de Deus e alcançar a própria prefeição. Quer dizer responder à vocação primária que está inscrita no ADN do próprio ser, por assim dizer.

     A relação de cada ser humano com Deus é uma relação entre pai e filho, portanto, uma relação de amor, de ternura, de atenção, de solicitude e de compreensão. Deus não é um pai distraído, ausente e desinteressado. A atenção que ele presta ao filho só pode ser imensa, contínua e protectora.

     Por isso os sinais especiais que se notam na vida dos santos não são «privilégios», mas elementos de um diálogo. São atenções divinas destinadas a ajudar ao desenvolvimento de uma «chamada», e prestadas na medida adequada, segundo a resposta proveniente do interessado.

    Ao ler a vida dos santos, ficamos a saber que estes, quando eram crianças, tinham muitas vezes contactos misteriosos com o divino, com o mundo invisível. Tal fato deixa-nos maravilhados. É muito provável, porém, que, se procurarmos bem, esses contactos misteriosos estejam presentes na vida de todos os homens.

    No principio talvez se tratasse de uma intuição, de um sopro interior, de uma inspiração. O ambiente favorável, formado pelas pessoas que rodeavam a nova vida, terá ajudado e favorecido a evolução.

   Entremos, racionando assim, no mundo da vida espiritual, que, com todas as coisas, tem um início, um desenvolvimento e uma maturação. É uma semente que depois de germinada, cresce, se fortalece, tornando-se adulta e passando a ser, por sua vez, vital.

   Ao constatar aquilo que os santos fizeram no decorrer das suas vidas, ficamos assombrados. Mas sentimos o mesmo ao observar as criações de um génio, de um artista, de um cientista. Todas essas pessoas extraordinárias realizaram qualquer coisa de clamoroso. Na realidade, realizaram aquilo  que lhes foi concedido, que era inerente à sua chamada, e que não é, de modo algum, melhor ou mais importante do que a humilde e aparentemente insignificante acção de qualquer outro mortal. Precisamente porque cada ser vivo é único e, quando se fala de unicidade, não existem comparações entre o pior  ou o menos. O único é único. Cada uma das suas ações tem um valor infinito.

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